segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Eu mesma me encarcero...

...E ninguém jamais me deixará sair."

Às vezes, quero um remédio. Um pouco de vinho, uma dose de aguardente para acalmar os ânimos e satisfazer os pedidos negados. Por ora - de acordo com a estação, talvez! - a embriaguez é ansiada. Murmuro desejos e sinto o líquido ácido qualquer escorrer pela minha garganta. Quero sentir meu corpo dormente, a mente libertada, risos sem razão, movimentos corporais tensos e intensos, os pensamentos voando por aí, descontrolados, parando em um fulano qualquer que agrade a minha futilidade onipresente.
Para afogar as mágoas e me render aos meus próprios equívocos: é errado cometer certos erros? "Embriagai-vos", como me contou Baudelaire. Embriago-me: cheia de virtude, repleta de graça, rodeada pelo desejo. Não sei se é para esquecer do vazio ou para me lembrar do que esqueci.
É um belo disfarce. Adentrar-me ao grupo o qual, há pouco tempo, era vítima de meus fatídicos julgamentos e menoscabos. Substituí o desprezo por atração, a depreciação por interesse e orgulho próprio.
Orgulho! Falso orgulho de mim, derivado do amor à minha corrosão. Escorro - pelo ralo, com a chuva, esvaeço com o tempo. Fica o torpor, o cheiro do que eu era, a vontade de ser de novo e o vazio do me tornar diferente.
Pela substituição, dedico-me ao estudo. Estudo matemático, filosófico, sociológico ou literário; mais do que isso, emocional. Substituo pessoas e inverto sentimentos, o padrão cai em desuso e a racionalidade maléfica sai para a entrada do impulso. Conta hoje, importa agora, exporta nunca.
Nos momentos de pacacidade, a inquietude interna se revela. "Eu sempre estive aqui", ela me conta. "Sempre estive aqui e não pretendo ir embora. Sou parte de ti e conto a tua história. Sou tua mas, além disso, tu és minha. Domino-te. Você pode tentar fugir pelas entrelinhas e escapar pelas frestas das portas das monstruosidades que deixei propositalmente abertas - não durará muito tempo."
Coloco as mãos nos ouvidos, aumento o volume da música, tomo um café e grito para me mandar parar. O vazio murmura as ordens, sussurra, e ouço a respiração da solidão no meu pescoço. Sem ou com consciência, o vazio continua lá (aqui!), independente das ações da natureza ou dos fatores físicos ou biológicos. Nem os aspectos sociais vão me alterar... 
"Você é linda. A realidade também é bonita" - dessa vez, não é a consciência, a inquietude nem o relaxamento; são as pessoas do meu passado, o recital das mentiras continua a fazer o seu espetáculo. Paguei caro demais pelo ingresso, o show não era tão bom ou convincente quanto as propagandas diziam.
Nesse jogo onde não há heróis ou vilões, sou simultaneamente minha própria salvadora e inimiga. Não gosto de vinganças, evito a dor e prefiro a justiça natural que surge com o acaso. Há de se transformar algo, para melhor ou para pior, algo há de mudar em mim.
Vem mudando. Não daquele jeito de antes, na prisão que vivi por meses, acreditando encontrar a chave para toda a desordem resguardada em mim. Assumo que sou contraditória, confusa, complexa e atormentada pelas teorias do caos que reinventei à meu gosto.  Sei que sou muito nada e pouco tudo. Não quero além disso: só quero me descobrir.
Sem ninguém, sem dores e sem amores, muito menos desamores ou acidez. Recebi distração em troca da felicidade e acabei me acostumando.
Mais um copo de vinho, uma garrafa de distração, um pingo de impetuosidade e fulanos e ciclanos que alimentem a sede e entendam o momento. 
Na escolha entre a verdade e a mentira, eu fico com a minha imaginação.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Jura, injúria

Enquanto o dia não chega, enquanto a vontade não cessa, enquanto o ser é só ser sem existir, eu vou desenhando meu caminho, tremendo as mãos e traçando curvas mais íngremes que as recomendáveis. Vou, assim sem mais nem "mas", caminhando com pressa e correndo devagar, gritando no silêncio e conformando-me com o clichê. Idolatrando a contrariedade e a plurissignificação de minhas certezas, distraio-me com o óbvio, questiono as prioridades, esqueço das relevâncias, entrego-me à insensatez. O que será nascer sem existência e ser sem obediência à si mesma? Tropeçar nos escombros do incêndio da minha inconsciência é deveras inseguro. E vou, vou pensando em querer e querendo ser. Flutuo na surrealidade.