quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fábula das vias transversais

dei boa noite à vírgula beijei no rosto o ponto final que rejeitava qualquer possibilidade remota de felicidade no desfecho triste da história inacabada mas no fim do fim do início desisti de qualquer impacto e firmei um pacto que não teve sangue nem outro elemento simbólico mas ainda foi um pacto selado mesmo que tenha sido calado com o mosquito que voava enquanto eu deitada imaginava se insetos pensam ora bolas já haviam me dito que só humanos eram racionais mas talvez deixando de lado o conhecimento daquele bom rapaz e considerando o termo humano como uma característica mais emocional e que é volúvel ao ser e nada intrínseca muito menos perpétua pensei que caso fosse comparado com determinado homo sapiens que poderia ser eu ou a senhora que me entregava o mocaccino em mãos na cantina do colégio de alguma maneira o bichano pequeno e quase imperceptível tivesse mais noção do que fazia e do que sentia e do que por ventura desejava além de naturalmente almejar um presente de sorte vindo do futuro que prolongasse a sua sobrevivência e tive certeza de que aquele mosquito era muito humano mas na verdade eu acreditava que se contasse a história para o filósofo que estudou na frança e que entende muito sobre a vida mas pouco sobre si mesmo o cavalheiro cheio de bons modos e com uma presunção entranhada diria que minha lógica estava errada completamente equivocada e que a minha vindoura tese de doutorado teria que ser baseada e embasada em outra coisa mais palpável porque ele preferia crer que eu era mais inseto do que humana e não o contrário e relutei em contar a novidade e pensei que eu era maluca e que absolutamente ninguém conseguiria compreender a velocidade do meu raciocínio e/ou interpretar minhas afirmações como detentoras de um pingo de veracidade e que todo mundo diria que eu bebi demais sonhei demais falei demais pensei demais dormi demais comi demais escrevi demais julguei demais e fiz tudo em demasia quando eu não havia feito nada a não ser deitar e mirar o teto e pensar em insetos e consciência e racionalidade e conceito humano e debochariam dos frutos do meu pensamento e o colocariam no topo do altar da missa do dia seguinte rezando pela minha alma para que eu voltasse a apresentar uma espécie de qualquer coisa comum mais parecida com tristeza do que normalidade e todo o pragmatismo das coisas me parecia distante depois que eu havia jogado o café no chão da cantina e feito o inseto ir embora do meu quarto à palmadas no ar e oh senhor mosquito você levou embora o que me fazia humana mas me deixou suas asas e nenhum estranhóide sapiens me alcança quando viajo e por surpresa descubro algum fator novo que desafie a ordem e promova um caos benéfico comportamental e uma dicotomia que resulta em antinomia e sobram contradições versões e especulações sobre os efeitos da cafeína e o desenvolvimento de uma nova raça de mosquitos que ao picar humildes e tangíveis moças indefesas transmitem certo veneno que corrói as explicações e só lança perguntas perguntas perguntas e pontos de interrogações na vítima você é um meliante senhor mosquito e eu sou a indefesa donzela do nosso romance do autor amigo do acaso casado com o destino que brigou com o ponto final e não criou um término alegre para a fábula da promissora sociedade falida do mito da exclamação