terça-feira, 3 de julho de 2012

Inspiração, sou tua!

Litígio
ou
Carta à Inspiração

Que tal um oi na janela

Só pra provar que você ainda existe?
Cá entre nós
Ando um pouco escondida e triste...

A tua falta desespera
O teu excesso é loucura
Ou as páginas são vazias
Ou sofro de constantes tonturas!

Aqui dentro, o caos assenta
Lá fora, a caneta seca
O recanto gentil de minhas palavras
Já chora com as páginas amarelas.

Não espero uma epifania
Tampouco uma maré de sorte
Quando foi que perdi a bússola
Que me dizia o ponto norte?

Se penso, perco a estrada
Fico longe das exclamações
Se paro, enfrento o congestionamento
Atordoa-me o barulho das interrogações!

Das redações de trinta linhas, sinto medo
Das belas prosas e poemas, não me lembro
Eu, que era requisitada para escrever cartões
Apavoro-me só de pensar em Dezembro!

Não sei se foi excesso de Pessoa
Acho que Lispector embaralhou as tuas ideias
Essa história de liberdade e denominação
Fez com que adiantasses o período de férias!

Tanto carinho lhe dei
Para que docemente amadurecesses
Agora fechas a porta
Como se a mim desconhecesses?

Destrata-me com amargura
Do meu caso pareces tirar sarro
Já dizia Augusto dos Anjos:
O beijo é a véspera do escarro!

Bonita tu apareces
Vestido florido, cabelo arrumado
Depois arranjas um motivo
Pedes o divórcio e está tudo acabado!

Devolva-me os versos
Se há uma pílula, mande-a num postal
Permanecer sem a tua presença
Para a minha essência será fatal!

Até desenvolvi insônia
Consola-me saber que por isso vais pagar!
(Quando chegares, te ofereço meu colo
E uma lírica canção de ninar.)