Engano-me, sim, quando ordeno ao meu lirismo que exalte
sensações que não tenho. Entre posses e fugas, contudo, paro no meio do caminho;
eis a pedra. Aproprio-me de Drummond: o entrave é, de fato, maior do que a
solução. Meu querer não é intransitivo e precisa - sem complexidade - ser
completado. Acabo por supor que exista uma relação inversamente proporcional
entre sentir e saber; ter a noção de que a sensação é plena envia o tormento
dos argumentos contrários às minhas teses. Escolha ou imposição, sei que não
sei e isso me basta para permanecer sentindo. Escrevo sobre a minha bênção:
ignorância.
Não respondo às pretensões, negligencio ao que me peço, não
adiro às lógicas e repudio a linearidade. Meu maior abuso é ser comedida e
transferir a felicidade para os próximos vinte anos. Espero que o futuro
dispense vocábulos conectivos e esteja longe o bastante para que as minhas
utopias sejam edificadas. O clímax do texto é sempre o perigeu da minha
certeza. Evito dizer, porque já me basta pensar.
Presenteio as entrelinhas com as lacunas do raciocínio. A
liberdade da prosa se encerra quando decido analisar a pintura: tinta a óleo
dificulta a arte... Borrei.