segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Primeiro estranha-se,

...Depois entranha-se."

Andei
- devagarinho -
Pulando por cima das folhas
- docemente -
Que voavam com voraz força do vento
- manso em seus contornos -
Espelhando reflexos ocultos
- por entre os cantos -
Vislumbrando os passarinhos
- passarinhando -
Criando um rascunho de mim
- dado ao acaso -
Presenteando o destino
- sagaz em suas escolhas -
Entristecendo a vida
- sempre tão pretensiosa -
Com minhas palavras ociosas
- inegavelmente necessárias -
Amando-te nas entrelinhas
- escondidinha -
Entre arbustos
- voltam as folhas? -
Entre sedes e vontades
- sonhos e felicidades -
Nas tortas retidões que me impunhas.

(Entre travessões, detalhes. Entre palavras, sentimentos.)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Honey pie

Buraco negro

Talvez agora eu tenha
Alguma certeza descabida
Certa vontade imensurável
Em linhas tortas e indevidas.

Alegria inexplicável a que sinto agora!
Aliás, resume-se a um único ser.
É a paixão pelo que sou quando estou contigo.
É a ingenuidade doce nos meus sonhos de te conhecer.

Deixa-me?
Te ter, mesmo não te tendo.
Te amar, mesmo sem querer.
Permita-me aproveitar a candura e a ternura que teus olhos me proporcionam?

Te esperar não é uma tareda árdua.
Uma indecisão gostosa,
Que fica em minhas entranhas
Provocando uma esperança infantil e charmosa.

Involuntariamente,
tu me inseres num mundo novo.
No teu mundo...
O meu mundo!

Há uma palavra
Que possa denominar os indecifráveis ingredientes dessa receita.
Não é amor,
Não é paixão.
É devoção.

Pura e intensa devoção ao surreal ato de te ter.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O que o ócio me faz

Ensaios de Embriaguez

O mundo perdido,
O fogo dos olhares corrompidos.
Os navios detentores de riquezas,
As aldeias transformadas em represas de tamanha tristeza.
Almas erradas se encontram,
Pensamentos sutis se esquivam,
Mãos separadas por acasos e descasos.
Ordens não-cumpridas,
Prisões estabelecidas,
Condenações e depreciações.
O que será ser?
Fatos, enredos e inventos.
Versões, afirmações e erratas.
Mal sabiam eles
- reles mortais -
Que da vida eram cobaias,
E de si mesmos eram reféns!

***

Escrevo as linhas tortas de um verso,
Como quem dança à procura de atenção.
Busco em mim a resposta
Para coisas ausentes de exatidão.
Conheço-me por inteira,
Entrego-me ao ensaio inacabado dos atos,
Vivo na espera do que não sei.
Pois, me diga:
Rotina não é só um mero eufemismo para desesperança?

***

Quarenta dias ele prometeu,
Quarenta dias foram a eternidade.
Arrumei a velha casa:
Lavei os vidros,
Dei brilho ao chão,
Engraxei os sapatos,
Comprei colares,
Abri a janela
E contei as horas.
Quando o avistei chegando,
Foi que lembrei-me do que havia esquecido outrora:
Do que adianta ser vistosa,
Se por dentro estou recheada de pó?

***

Pisando sobre diamantes,
Tateando ao encontro do nada,
Destilando veneno por entre os dedos.
As formigas,
Com seu andar aflito e exasperado,
Me contam histórias.
As abelhas me ensinam a fazer mel.
Os peixes me abrem os olhos,
Meus fios de cabelo deixo crescer.
Óh, Deus, perdi meu sapato!
Sou a princesa de um reino
Onde a loucura é moeda de troca.
Os fantasmas transitam,
Mas sempre esquecem de fechar a porta!