sábado, 11 de agosto de 2012

Eu-lírico, você-lírico

Nossa relação é antítese; talvez eu recorra às hipérboles para detalhar com eficácia os pormenores que contornam os nossos vínculos. À deriva, apoio-me em metáforas. Se as palavras se assemelham a cartas embaralhadas, abraço as interjeições. Ah, somos retângulos que se esqueceram de que a adequação às normas cultas é uma exigência mais do que fundamental. Paralelogramo. Paralelo.
Gosto de pensar nós como nós: pronome como substantivo. Entrelaçados, presos por conveniência ou força maior. Segurando o acaso entre nós. Alimentando a esperança de que, algum dia, o fio rompa, após anos de resistência e ardor, liberando e libertando o presente. Intersecção disfarçada. Entre nós. Nós.
Percebo a existência de um dilema, quase um paradoxo. Se falo em primeira pessoa, pareço falsamente sensível e aberta em demasia. Ao contrário: não me sinto disposta a contrariar o que se vê. Eu sinto, eu doo, eu me doo em quantidades não recomendáveis. É comum. Não sou eu e não parece o que é. É nó.
Abandono o "eu", discurso para ti. Tu. Lerás? Chico Buarque cantava a alguém, Quintana chorava por alguém, eu escrevo para alguém. São seres diferentes e ideias incongruentes na essência. Se te utilizo como você, encaixo-te em uma ordem involuntária de vocês que não te (nos) representa. Por consequência, torna-te mais um. Da Silva. Você da Silva.
Por qual recurso opto? Qual verbo transcreve a ação? Qual pronome suprime meu querer-dizer e incorpora o não-dito também? Ao fim, avalio o te(x)to. Conto as peças do quebra-cabeça e reparo no que não é passível de conserto. Silencio diante das frases. Atrevo-me a aderir a uma perspectiva mais concretista e menos pragmática da vida; let it be, life goes on. A continuidade aponta o surgimento das reticências; insurjo-me. Prefiro o que é definitivo e não permite dúvidas. Sei que gosto do certo, mas tu és o errado.
Diga-me com quem andas e te direi quem és. Diga-me do que gostas e te direi que és o contrário disso. Assim, perturba-me e injeto em ti doces deletérios; lá pelas tantas, dedico minhas cartas e canções sem métrica para que, em troca, receba um sorriso de aprovação. Juntos, formamos dramas e epopeias - esperamos pelo alarme do despertador. Despertando a felicidade para acariciar a tradução.
Par perfeito, tu semeias a discórdia e, com pouca constância, me oferece as respostas. Tua companhia é a melhor definição de presença, da mesma forma que a tua ausência é um ensaio da inércia. Na nossa história, dividimos o protagonismo e nutrimos certezas sobre o futuro.
Estamos atados. Colados. Lado a lado, existência com existência, palavra com palavra. Pensamento com pensamento.
Eu e você. Causa e efeito. Corpo e lirismo. Nó.