quarta-feira, 29 de maio de 2013

Lirismo bem comportado que desistiu de ser libertação

Eu sei, embora preferisse não ter conhecimento de causa, que tu depositarás um bilhete na caixa postal e imaginarás a minha reação ao lê-lo. Eu sei que a tua exasperação será tanta que não suportarás admitir o futuro como uma incógnita -- sei, meu bem, que tu me ligarás e repetirás tudo aquilo que escreveste anteriormente. Eu sei que tu me mandarás flores, recitarás sinceros e ridículos versos e comporás melodias com o tom da minha existência. Eu sei que tu me acompanharás aos quatro cantos do mundo e me convidarás para conhecer Marte. Eu sei que dividiremos a cama e tu cederás o cobertor para que eu me aqueça. Eu sei que tu viajarás para outra galáxia e enviarás notícias. Eu sei que tu sentirás ciúme dos meus livros e pedirás, em tom de súplica, que as enciclopédias cedam espaço na estante para os nossos porta-retratos. Eu sei que tu fingirás e elogiarás a minha péssima comida. Eu sei que tu reclamarás das minhas noites em claro e tentarás descobrir o que me aflige. Eu sei que tu criarás artifícios e me convencerás a abandonar o sedentarismo. Eu sei que tu segurarás as minhas mãos, mesmo quando a minha frieza atingir níveis alarmantes. Eu sei que tu compartilharás dos meus ideais e discordarás do meu sectarismo. Eu sei que tu enfatizarás que sou pequena -- ínfima -- e o quanto preciso crescer para deixar marcas mais relevantes no mundo. Eu sei que tu abrirás os meus olhos e farás com que eu queira parar de transitar. Eu sei que tu entenderás -- sem justificar -- o que sou. Eu sei que compreenderei minuciosamente o que és. Eu sei que saberemos pouco. Eu sei que desejaremos muito. Eu sei que seremos nós.